Em Terras de Santa Maria da Feira, na freguesia de Mosteirô, uma das mais pobres do concelho, nasceu, a 12 de agosto de 1905, Porfírio de Andrade e Silva...Foi um dos 16 filhos de Josefino da Silva Bento e de Maria Andrade de Jesus.
A infância viveu-a na freguesia, em ambiente de arreigado catolicismo, no seio de uma família de razoáveis posses. Frequentou a instrução primária em Vila da Feira, fazendo um percurso diário de 10 quilómetros de bicicleta, para chegar à escola. Por dificuldades de acesso aos liceus, e dado que não tinha vocação para o seminário, esteve cerca de quatro anos sem frequentar qualquer estudo, até que um dos irmãos, Manuel Andrade e Silva (mais tarde pároco de Gondomar) o leva para o Colégio dos Carvalhos, onde era professor, conseguindo, em quatro anos, fazer com distinção os sete do liceu.
Concluída esta etapa, matricula-se na Universidade do Porto, em Engenharia. Com espanto, ao frequentar as aulas verifica que não está inscrito nesta opção, mas em Medicina. Não podendo anular a inscrição, nem perder um ano, frequenta este curso, alojando-se no Seminário de Vilar, onde o irmão, Manuel, era agora professor. Tendo acabado a Licenciatura com 19 valores, foi convidado para assistente de Clínica Cirúrgica, uma das cadeiras mais reputadas e credenciadas do último ano da formação.
Em1930 casa com Arminda Godinho de Seabra, natural de uma freguesia vizinha, S. Miguel do Souto. Deste casamento nascem dois filhos, a mais velha em Vila Nova de Gaia, onde, entretanto se fixara, e mais tarde um filho, em Valbom, no concelho de Gondomar, para onde se mudara.
De 1932, altura em que se fixou em Valbom, até o seu falecimento, em S. Pedro da Cova, a 6 de março de 1971, sempre residiu no concelho de Gondomar. Em 1933, como lhe surgisse a oportunidade de ser médico nas Minas de S. Pedro da Cova, que então atravessavam um período de prosperidade, desloca-se com a família para o local de trabalho, onde residiu até à sua morte.
O concelho vivia, pelos anos 40, um período de crise, com “politiquices”, intrigas e uma acentuada estagnação no seu desenvolvimento, o que o leva a envolver-se na política local. Em 1946, é nomeado presidente da Câmara e, ao fim de algum tempo, consegue, com arte e a sua brilhante inteligência, acabar com os “politiqueiros”, chamando-os a colaborar para o desenvolvimento do concelho, sem se importar com o seu credo político. Penso que a partir daquela altura se deu uma reviravolta no concelho em obras materiais e, sobretudo, na instrução. Lembro que, durante os 13 anos que esteve à frente do Município, se construíram mais escolas do que nos 50 anos anteriores a 1946.
Naquele tempo havia, no concelho, pequenas empresas distribuidoras de eletricidade, com os consequentes interesses privados, que tão mal serviam os cidadãos. Resolve criar os ‘Serviços Municipalizados de Electricidade’, o que, ferindo os privados, mais dificuldades se lhe levantava. Convém aqui recordar as lutas judiciais que travou com as transportadoras de energia. Recordo-me que este processo foi levado até às últimas instâncias judiciais, tendo Gondomar ganho o litígio. Em consequência, foi alterada a legislação em vigor, o que trouxe enormes benefícios, não só a Gondomar, como também a todos os Municípios em idênticas circunstâncias. Mais tarde, cria os serviços de Águas e Saneamento, com distribuição ao domicílio, o que para a época era ainda pouco habitual.
Para além de desenvolver a rede viária instala em Valbom, no ainda hoje moderno edifício da Junta, um lactário para acolher as crianças necessitadas e desnutridas, numa tentativa de minorar os surtos de tuberculose que minavam as famílias na freguesia. A esse lactário foi dado o seu nome, que mais tarde a revolução vermelha dos cravos se apressou a retirar e que o poder democrático nunca teve força ou vontade para repor.