Por três vezes Crispim Gomes Leite, pároco de S. Cosme, foi nomeado Presidente da Câmara de Gondomar. A primeira delas, em 1931-1932, foi antes do início oficial do Estado Novo (em fevereiro de 1933), mas já em pleno período de Ditadura Militar, que se iniciou com o golpe de 28 de maio de 1926.
Natural de Mosteirô (Feira), onde nasceu em 20 de março de 1889, Crispim Gomes Leite, filho de José Gomes Leite, foi ordenado presbítero em 1911. Antes mesmo de ser nomeado para a paróquia de S. Cosme, Gondomar, passou por Fornos (Feira), Bonfim, Airães (Felgueiras) e Espinho. Em 1929, recebeu a nomeação de pároco de Gondomar, onde esteve de fevereiro desse ano até junho de 1938. Os anos seguintes ficariam marcados por um regresso à Feira e por novas experiências pastorais, nas Antas, Ovar, Sé e Recolhimento de Nossa Senhora das Dores e de S. José do Postigo do Sol. Só ao fim de 17 anos, em 2 de setembro de 1955, é que regressou a Gondomar. Em ambos os períodos cronológicos em que se fixou no concelho foi Presidente da Câmara.
O primeiro mandato como presidente foi curto, mas os que lhe sucederam (1934-1937, primeiro, e 1959-1965, depois) foram prolongados e, por isso mesmo, mais significativos em termos de obras realizadas no concelho. Foi durante o terceiro mandato de Crispim Gomes Leite que se iniciou a construção da Escola Industrial e Comercial de Gondomar (hoje Escola Secundária), para além de outros edifícios escolares, como Souto, Lomba, Cabanas ou Melres. Também o projeto da Quinta das Freiras, em Rio Tinto, foi lançado com Crispim Gomes Leite na presidência, assim como a inauguração do Bairro dos Bombeiros, em S. Cosme, no lugar do Calvário, e a construção do campo de futebol do Gondomar Sport Clube,
junto à Escola Industrial.
“Não solicitei nem mendiguei o cargo; mas convidado com insistência, por quem de direito, aceitei com a consciência plena da responsabilidade por mim assumida, e pronto para o sacrifício”, afirmou, numa saudação ao povo de Gondomar, aquando da terceira nomeação como presidente.
Durante os seus mandatos, Crispim Gomes Leite fez eco dos acontecimentos políticos a nível nacional e internacional, da Guerra nas colónias aos episódios a nível interno, exprimindo frequentes manifestações de apoio ao Governo. Assim aconteceu por altura do assalto ao Paquete Santa Maria. A 22 de Janeiro de 1961, um grupo de oposicionistas ao regime de Salazar, comandado por Henrique Galvão, assaltou o paquete de luxo, que transportava 970 pessoas e se preparava para acostar no Cais de Alcântara, em Lisboa, e desviou-o para o Recife, no Brasil. A manobra foi classificada como “ato de pirataria” por Crispim Gomes Leite, segundo o que ficou registado nas atas da reunião. Também a pressão exercida pelas Nações Unidas no que diz respeito à presença portuguesa nas colónias foi repudiada pelo presidente.
Na reunião camarária de 20 de outubro de 1960, Crispim Gomes Leite exprimiu repulsa pelas “ofensivas ardilosas tomadas pela camarilha comunista na Assembleia Geral das Nações Unidas e que visam não outro fim que não seja a implantação do comunismo nas nossas paróquias do Ultramar, com a consequente escravização das respetivas populações”. Crispim Gomes Leite morreu, aos 76 anos, a 27 de outubro de 1965, enquanto exercia funções de presidente, numa reunião no Governo Civil do Porto.