Grande parte da vida de Almerindo Martins Gomes repartiu-se entre dois países: no Brasil fez fortuna como ourives, em Portugal exerceu funções políticas na Câmara, como administrador e vice-presidente.
Natural de Gondomar, Almerindo Martins Gomes nasceu em casa dos pais, no Crasto, em S. Cosme, no ano de 1895. Aos 21 anos emigrou para o Rio de Janeiro, onde já residia alguma família, que se tinha estabelecido na cidade com um café. Mas Almerindo, que completou a quarta classe e aprendeu desde cedo a profissão de ourives, enveredou com sucesso por este ramo.
No Rio de Janeiro conheceu a esposa - Olívia, que ele chamava de Nanã, filha de pais portugueses, de Vila de Conde - e abriu a joalharia “Portuense”. A casa, nas palavras do filho, Elói, “uma das principais joalharias do Rio de Janeiro”, vendia ouro e prata importados de Portugal, enriquecidos com pedras preciosas brasileiras.
Apesar de ter criado raízes no Brasil, cumpriu a promessa de voltar a Portugal aos 45 anos. Em Gondomar teve o único filho da união e, durante a temporada que passou no país, empenhou-se nas atividades da Câmara. Foi administrador (1935) e vice-presidente em exercício, na sequência da substituição, em 1942, de João Lopes Cardoso, que abandonou o cargo. Apesar de nunca ter sido nomeado presidente, geriu a Câmara durante quatro anos, propondo obras novas e encaminhando projetos em curso. Durante o tempo em que esteve à frente do Município, foi o responsável pelo “Projeto de Urbanização no lugar de Quintã e Praça Manuel Guedes”. A 27 de Abril de 1946, Porfírio de Andrade e Silva foi nomeado presidente e Almerindo Martins Gomes manteve-se até 2 de maio como vice-presidente.
Nacionalista convicto, Almerindo Martins Gomes foi membro de casas portuguesas no Brasil e nunca chegou a perder o sotaque. Para Portugal, à semelhança de tantos outros “torna viagem”, trouxe a arquitetura típica das “casas de brasileiros”. No gaveto da Rua do Monte Crasto com a Sidónio Pais, em S. Cosme, construiu um palacete do início do século XX, com tetos minuciosamente estucados com motivos florais e as paredes decoradas por um pintor grego, que veio do Brasil para Portugal especialmente para esse fim.
Em 1947, decidiu mudar-se, novamente, para o Brasil, de onde só voltou no final dos anos 60. Neste novo regresso, a vida de Almerindo está substancialmente alterada. Ao contrário do que aconteceu nos anos 40, não voltou para a vida política e, a nível familiar, a esposa havia sofrido um derrame cerebral, que a deixou fisicamente limitada. Os últimos anos de vida são inteiramente dedicados aos negócios e à mulher, que exigia cuidados permanentes. Não voltou a fixar-se no Brasil, mas também deixou por lá a sua marca: no Rio de Janeiro vivem, hoje, a neta e a bisneta.
Almerindo Martins Gomes faleceu em 1978, depois de uma queda o ter imobilizado. A esposa morreu três dias mais tarde, ignorando a morte do marido, mas reclamando a sua falta na casa.