João Lopes Cardoso nasceu a 23 de agosto de 1895, em S. Cosme, junto ao Calvário, na rua a que se deu o nome Dr. Lopes Cardoso, em homenagem ao Presidente da Câmara, mas também ao médico. Entre 1938 e 1942, assumiu a presidência da Câmara de Gondomar, tendo pedido o abandono de lugar ao Governador Civil do Porto. Lopes Cardoso deixou a presidência a 15 de janeiro de 1942, sendo substituído pelo vice-presidente em exercício, Almerindo Martins Gomes.
Na ata nº 17 de 30 de julho de 1942, a Câmara aprovou uma moção de louvor a Lopes Cardoso fazendo “votos para que retome as suas funções”. No entanto, o cargo que deixou vago só voltou a ser ocupado em 1946, por Porfírio de Andrade e Silva. A ação de João Lopes Cardoso na Câmara distinguiu-se, sobretudo, pela construção de lavadouros públicos (o de Nasce-Águas, em S. Cosme, é só um exemplo), um bem que a população reclamava na época, como confirmam os ofícios enviados à Câmara, solicitando lavadouros nos lugares, para garantir a presença de água perto de casa.
O Plano dos Centenários, um projeto do Estado Novo, que tinha como objetivo a construção de escolas-tipo ou a reparação dos edifícios já existentes, acabou por deixar as suas marcas nos anos de Lopes Cardoso, à semelhança do que aconteceu com outros presidentes. Durante esta altura, foram aprovados diversos projetos de escolas, como a de Santa Eulália, em Fânzeres, e a de Vila Cova, nas Medas.
Se a João Lopes Cardoso está associada a presidência da Câmara, na memória da geração passada não pode deixar de estar registada a figura do médico. Formou-se em medicina pela Universidade de Coimbra (o último ano fê-lo no Porto, na sequência da greve em Coimbra), com notas entre os 16 e 18 valores. Concluída a formação, abriu consultório no Porto, mas acabou por fechá-lo para exercer medicina em Gondomar, na casa onde nasceu. Lopes Cardoso foi um humanista do seu tempo, que recebia os doentes sem cobrar dinheiro, assim o recorda Fernando Cardoso, o único filho vivo dos cinco que teve.
Enérgico e temperamental, exasperava-se com os hábitos de uma comunidade que escarrava na rua, ignorando as elevadas taxas de tuberculose. Casou-se com Margarida Braga Lopes Cardoso, natural do Porto, que passava as férias com a família na casa dos Carregais, em S. Cosme, hoje habitada por Fernando Cardoso.
A personalidade forte do médico e presidente convivia com a sensibilidade para a arte, em particular a música. O carácter social do seu temperamento está, de certa forma, espelhado nos documentos da época arquivados na Câmara. São do seu tempo os ofícios enviados pelos presidentes da junta à Câmara, em resposta a um pedido de inquérito sobre a taxa de desemprego no concelho.
Em 8 de Setembro de 1962 morreu, com um enfarte do miocárdio. No livro de atas das reuniões camarárias ficou registado um voto de pesar a João Lopes Cardoso, que “serviu como Presidente desta Câmara, realizando importante obra, e que, como médico nunca deixou de atender graciosamente a todos os pobres”. A monografia de Gondomar refere-o como “um dos mais dedicados amigos do Clube Gondomarense”.