Jeremias Francisco Gaudêncio das Neves nasceu a 15 de julho de 1927, em S. Cosme, Gondomar, na Rua Sidónio Pais, junto ao Crasto. Filho de Jeremias Gaudêncio das Neves e Maria Ferreira de Moura, foi o terceiro fruto da união, mas o único que se vingou. A morte do pai, quando Jeremias tinha apenas sete anos, roubou-lhe uma infância protegida no lar. Em pouco tempo, o património da família (o pai era ourives) foi vendido, a mãe viu-se obrigada a trabalhar e Jeremias foi viver com uns tios, no Porto.
Os anos seguintes, marcados pela Guerra Civil de Espanha (1936-1939) e pela 2ª Guerra Mundial (1939-1945), foram passados no Porto. Jeremias Neves conciliou o trabalho com os estudos na Escola Comercial Mouzinho da Silveira e, com 15 anos, consegue o primeiro emprego fixo. Entrou para a Jomar (empresa de madeiras, na altura, com sede na Corujeira) a ganhar 200 escudos. Quis saber de tudo sobre madeira, sobre o funcionamento da empresa, sobre os operários, trabalhou à semana e aos fins-de-semana, conquistou a confiança do patrão e, ao fim de um ano, auferia o salário de 1 conto de reis por mês. Nessa altura, regressa a Gondomar, para viver com a mãe, que, entretanto, estava a trabalhar como servente na Escola do Souto.
Em Gondomar, por via do trabalho na Jomar, contata com os marceneiros locais, começa a construir uma casa no Pevidal (onde ainda reside), torna-se pessoa conhecida. Em 1953 casa-se com Maria Isabel Teixeira Ferreira (transmontana de Freixo de Espada à Cinta, filha do Tesoureiro da Fazenda Pública, em Gondomar), com quem teve três filhas. Dedica-se a tempo inteiro à Jomar, até que, fruto da notoriedade local, é convidado para presidente dos Bombeiros Voluntários de Gondomar.
Entre os finais dos anos 50 e início dos 60, os Bombeiros estavam sedeados num edifício antigo, na Rua 5 de Outubro. Jeremias Neves tirou dividendos dos contactos que tinha para incentivar donativos junto dos lavradores, dos ourives e marceneiros. Assim conseguiu restaurar o quartel e comprar viaturas. O passo seguinte foi contatar a Câmara, onde apresentou a proposta de construção do Bairro dos Bombeiros, no Calvário. Por essa altura, já havia, no lugar, o Bairro dos Ourives, restando um pedaço de terreno por urbanizar, propriedade da Câmara. O projeto do Bairro dos Bombeiros, avançou com a doação do terreno e o apoio do Estado.
Depois do trabalho desenvolvido nos Bombeiros e a fama de empresário exemplar, o convite para entrar para a Câmara como vereador, no tempo de Crispim Gomes Leite, tornou-se quase inevitável. Jeremias Neves continuou, como sempre, na sombra, prestando apoio à gestão do Padre Crispim. A idade avançada do então Presidente, que morreu subitamente durante uma reunião no Governo Civil do Porto, empurrou Jeremias Neves para o lugar de presidente substituto, que ocupou de novembro de 1965 até à nomeação de Manuel Desport Marques para a presidência em maio de 1966.
Com a partida de Desport Marques para Angola e a tomada de posse de Manuel Lema Monteiro, em 1969, encerrou-se um capítulo na vida de Jeremias Neves. Continuou a investir, grande parte do tempo, nos negócios: foi dono da Jomar e vendeu-a, direcionou-se para o negócio imobiliário com sucesso. Aos 79 anos, Jeremias Francisco Gaudêncio das Neves mantém o vício pelo trabalho, que permanece como a grande vocação da sua vida, bem como a paixão pelo Futebol Clube do Porto.